terça-feira, 29 de junho de 2004

hotel, Mike Figgis

hotel. o filme mais estranho que alguma vez vi.
video, várias câmaras, um filme dentro do filme, várias imagens em simultaneo, imagens simétricas, imagens em espelho, personagens vampirescas (macabras, preversas e súbtilmente cómicas), vestidos vermelhos, cabelos despenteados, batas brancas e olheiras profundas, cenas hilariantes, críticas básicas ao dogme, uma sensação estranha, o frio do ar condicionado da sala de cinema, o som repetido à laia de filme de terror barato, uma veneza muito caucasiana e mediaval, ... estranho, muito estranho e digital!

sábado, 26 de junho de 2004

O meu dia de folga

Tinha tirado o dia. Para não fazer nada. Para nem pensar que podia ter alguma coisa para fazer. Tinha tirado o dia para deixar o computador e a cabeça descansarem. E como qualquer pessoa que não tem direito a um dia só seu há meses, este, ía-me saber a tudo. E afinal, por excesso de cansaço não consegui dormir, por excesso de calor não consegui descansar, por complicações alheias não consegui apanhar sol. E ainda me consegui zangar comigo e decepcionar com os outros.
São seis da tarde de um lindo dia de Verão e estou de regresso ao computador. Se calhar há pessoas que nasceram para não terem dias-de-não-faz-nada!

Os sonhos cumprem-se!

No outro dia estava a ouvir uma amiga a falar para um grupo de adolescentes sobre esta incrível capacidade humana que é SONHAR. Não sonhar a dormir, mas sonhar consciente e acordado, pensar e projectar o futuro a partir das convicções de agora. E o que ela dizia àqueles adolescentes em tempo de rebelião com a vida é que os sonhos se cumprem (e deu muitos exemplos concretos da vida dela). E porque os sonhos se cumprem realmente é necessário sonhar alto, desejar muito, projectar melhor.

Lembro-me de ser adolescente e ter esta certeza de que queria mais, de que queria radicalidade para a minha vida, de que não me queria acomodar. Lembro-me de ter medo de perder a garra com a idade. Quando no outro dia, a ouvi, com 40 anos, falar com uma vitalidade adolescente de uma vida nada acomodada, tive a certeza de que os sonhos se cumprem.

Se tivermos a coragem de os sonhar e a loucura de lutar por eles.


Está tudo pronto? Dá-lhe gás!

Três, dois, um, vai arrancar
uma espécie de hino em versão popular
sem essas coisas de mão no peito e ar pesado
Em 2004 o campeonato vai mudar o nosso fado
do coitado, do comido
Porque é que o país se queixa do que podia ter sido?
Mas nunca é. E a culpa nunca é nossa
é do árbitro, é do campo, é de quem nos deu uma coça.
Chega. Queremos mais, é um murro na mesa.
Um grito do Ipiranga em versão portuguesa.
Porque até hoje, quase marcámos, quase ganhámos, quase fizemos…
Mas porquê quase? …Passemos à próxima fase.

(Refrão)
Marca mais!
Corre mais!
Menos ais, menos ais, menos ais!
Quero muito mais!

O conceito é muito simples: não desistir.
Mas será que é chato aquilo que acabamos de pedir?
É chato agora, acreditem no que digo:
nós jogamos em casa e contamos com o Figo,
o Rui Costa, o Deco, o Simão e o Pauleta.
Razões para querermos muito mais que um lugar que não comprometa.
Será de mais pedir a taça?
Nada que um adepto com o mínimo de orgulho não faça.
Bonito, bonito, é dar o litro,
É não passar a vida a pôr culpas no gajo do apito.
Vá lá gritar noventa minutos, cento e vinte, o que for
do princípio ao fim, por favor.
Vamos lá, afinem-me essa voz
No fim, só ganha um… e temos que ser nós.

Marca mais!
Corre mais!
Menos ais, menos ais, menos ais!
Quero muito mais!

Joga mais!
Sua mais!
Menos ais, menos ais, menos ais!
Quero muito mais!

Nem custa tanto assim imaginar a vitória
no fundo, é só uma soma de momentos de glória.
Era bonito… Um abraço aqui, um abraço ali…
Abraço toda a gente, abraço quem nunca vi.
Vamos lá transformar isto numa grande festa
Sem pressão, Selecção, és a esperança que nos resta
Por isso, escuta: não te esqueças que a sorte protege os filhos da luta.
Não nos levem a mal a exigência
Mas p'a empates e derrotas não há grande paciência.
Queremos mais, muito mais, menos ais
Scolari, já vimos do que cê é capais.
Cê sabe que para ganhar é preciso ter fé.
E a bola no pé.

…querem mais?

Então vamos lá outra vez
Quem não salta, não é português
Sempre com o desejo de cantar na final
"levantai hoje de novo o esplendor de Portugal".
Tudo a postos,
vamos ter fé uma vez na vida
e acabar o europeu de cabeça e de taça erguida.
Se temos saudade, temos vontade, temos saúde, temos atitude
Se temos tudo, de que é que o português se queixa?
…Era esta a vossa deixa.

Marca mais!
Corre mais!
Menos ais, menos ais, menos ais!
Quero muito mais!

Joga mais!
Sua mais!
Menos ais, menos ais, menos ais!
Quero muito mais!



Aqui fica postado aquele que acho ser O Hino da nossa selecção. Em português, escrito e composto por portuguêses, reflete e critica bem o ser portugues!
E agora expliquem-me como é que alguém teve a brilhante ideia de por uma bimba que não fala a nossa lingua e mal fala a universal a cantar histérica umas pirosices fáceis de ouvir e sem muito conteúdo. pff!
Como uma quê?

sábado, 19 de junho de 2004

ainda há estrelas no teu olhar

Possas tu sempre ser
Um Homem Novo, sem preconceitos,
Possas saber amar,
Ver no espelho os teus próprios defeitos.

Possas tu ter os ombros fortes
Para aguentar o peso da liberdade
E o coração de leão
Para não teres medo de encarar a verdade.

Deixa-as viver, meu irmão...
Fá-las brilhar, meu irmão...
Ainda há estrelas no teu olhar.

[Jorge Palma]

a inspiração para as últimas noites ao luar, em que a lua não existia e as estrelas estavam escondidas pela neblina!

quinta-feira, 17 de junho de 2004

margarita

6 partes de tequila silver ou gold (90 ml)
2 partes de Triple Sec (30 ml)
4 partes de sumo de lima natural (60 ml)
sal fino
quarto de lima

esfregue o quarto de lima no rebordo de uma taça de cocktail e mergulhe este num prato de sal fino. junte os restantes ingredientes no shaker com gelo picado. agite bem e verta para a taça de cocktail gelada e salgada.

"penso: talvez os homens existam e sejam..."

"Os homens são uma parte pequena do mundo, e eu não compreendo os homens. Sei o que fazem e as razões imediatas do que fazem, mas saber isso é saber o que está à vista, é não saber nada.
Penso: talvez os homens existam e sejam, e talvez para isso não haja qualquer explicação; talvez os homens sejam pedaços de caos sobre a desordem que encerram, e talvez seja isso que os explique."


[nenhum olhar | José Luís Peixoto] > a minha paixão literária do último verão!

domingo, 13 de junho de 2004

desconhecidos

Depois de duas noites em festa (Super Bock Super Rock + Santos em Alfama e na Madragoa), depois de duas noites entre multidões apinhadas de desconhecidos cheguei à brilhante conclusão que há gente muito interessante! Gajos com pinta! Engraçaditos! Giros! Bem dispostos! Coloridos, sei lá!
E agora expliquem-me onde é que eles andam durante o dia?

sexta-feira, 11 de junho de 2004

um ano

em que desesperei
em que aguentei cá dentro o que corroía o meu ser eu
em que engoli raivas e cuspi soluços
em que barafustei e me queixei
em que me armei em forte sem forças próprias
em que aceitei e aprendi a ouvir as ajudas dos outros
em que descobri tantas coisas novas no mundo
um ano em que emagreci e engordei e reaprendi
a brincar e a viver por mim.

e ontem se não fosse alguém lembrar-me,
passava-me ao lado o já ter passado um ano. de crescimento.

porque há pessoas que são sempre culpadas pelos meus sorrisos de paz,
um abraço forte e agradecido. por mais um ano.

vida de peixe

Segunda feira, ao dar os bons dias ao PP, a Raquel perguntou-lhe como é que ele estava, ao que respondeu com o seu ar despistado: este fim de semana o meu peixe morreu afogado!
E foi dito com tal sinceridade que eu (contendo o sorriso que queria a todo o custo saír) não pude deixar de pensar que para peixe, deve ser uma morte lixada!

quinta-feira, 10 de junho de 2004

poeira

agora a poeira é cósmica! até me apetecer aterrar.

segunda-feira, 7 de junho de 2004

directamente das paredes da caneca

Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão
Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido
Olho e contenta-me ver, Pequeno, negro e claro, um paquete entrando. Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira. Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo. Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio, Aqui, acolá, acorda a vida marítima, Erguem-se velas, avançam rebocadores, Surgem barcos pequenos detrás dos navios que estão no porto.

[Ode Marítima, FP]

domingo, 6 de junho de 2004

café na caneca do FP

Acabou de levantar a mesa e foi à cozinha buscar o aspirador pequenino para aspirar as migalhas da toalha. Voltou a guardá-lo no armário ao pé da porta. Estendeu o pano de trabalho por cima da toalha da mesa onde depositou depois, com cuidado o computador. E começou a trabalhar. Levantou-se pouco depois e voltou à cozinha. Encheu o jarro eléctrico de água, ligou-o à corrente. Olhou pela janela a quietude do pátio traseiro naquela tarde de calor. Abriu o armário dos copos para tirar uma caneca. Procurou por detrás das que via e não a encontrou. Fechou o armário e abriu outro de onde retirou o nescafé. A água parou de borbulhar no jarro. Estava quente. Dentro da máquina encontrou a caneca branca e estreita, com palavras de Fernando Pessoa. Trazia dentro os restos do café do dia anterior. Enquanto a passava por água, com o cuidado de quem tem nas mãos um objecto querido lembrou-se de um filme com uma cena parecida. E sorriu. Abriu o frasco, varreu o pó castanho para dentro da caneca e encheu-a de água quente até meio. O cheiro amargo invadiu a cozinha. Regressou ao computador com um misto de café e poesia entre as mãos. A única combinação que a permitiria sobreviver ilesa a uma tarde quente de trabalho.

luzes

sabem aqueles dias em que o sol invade a janela logo pela manhã e o dia promete ser feliz?
sabem os outros dias em que, por muito sol que invada as muitas janelas, as radições do ecrã são mais intensas.
Então há que escrever que há dias de sol na vida, quanto mais não seja para nos convencermos disso!

um mega sorriso para quem está a trabalhar

sábado, 5 de junho de 2004

um filme muito educado

Depois de 5m de qualquer filme de Pedro Almodovar estou rendida. Rendida às cores saturadas e quentes que me enchem a alma, aos detalhes decorativos retro que me fazem sorrir. 5minutos é o tempo necessário para me sentir familiar e confortável a olhar em castelhano o grande ecrã. Mas até eu que fico perdida nos pormenores consigo perceber que um filme é mais que cor e adereço.
A expectativa que levava comigo para a sala de cinema era perigosamente grande. Já tinha ouvido os mais diversos comentários em relação a esta Mala Educacion: que era forte, que era chocante, que era uma decepção.
Achei-o um filme bem educado. (arrisco até a dizer, delicado)
Uma história forte (porque fala de abusos sexuais, de pedofilia, de uma instituição igreja sem moral e do ser humano pronto a xular o ser humano)
Sem cenas chocantes ou decepcionantes (porque nada é retratado de uma forma fria, nua)
A tensão de algumas cenas é puramente estética (e daí a delicadeza): é fotografia e som que envolvem e deslumbram sempre, sempre com o corpo como elemento dominante (o jogo da bola ao som do Kírie, as canções do jovem colegiano, o fabuloso mergulho na piscina, os cabeçudos).
E os personagens são muito personagens: um mundo de sentimentos muito puros encobertos por muitas camadas de maquilhagem, por vezes bem visível, outras pouco assumida.
E além da cor e dos ambientes que me fascinam, Almodovar trouxe-me desta vez o suspenso dos corpos que transportam histórias com eles. Não é um filme que seduza facilmente como os últimos dois. É um filme que obriga a parar, pensar e escrever. E isso é fascinante.

quinta-feira, 3 de junho de 2004

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

[Sophia de Mello Breyner Andersen]

Às vezes tenho a certeza que quero continuar a acreditar nesta espécie de ingenuidade crítica, que torna a passagem pelo mundo menos confortavel e mais autêntica!
porque os outros são os outros e eu não.