sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

setôooraaaa

Em poucos meses habituei-me a que me chamassem setôraaaa. E o que de início era uma desconfortavel forma de estar numa pele que me parecia demasiado distante para mim, acabou por tornar-se, com o tempo, a maneira natural de estar e ser….stôra.
A dificuldade de decorar tantos nomes (que corespondia à aflição de pensar que nunca alcançaria a individualidade dos meus 55 alunos adolescentes foi-se desvanecendo. Afinal o meu papel (que não começa nem acaba na sala de aula) é só um, entre tantos outros, arranhões nas suas vidas. E esforço-me para que a marca seja qualquer coisa mais que a matéria que evaporará.
O desafio inicial de pegar em duas turmas demasiado irrequietas e irreverentes (leia-se mal comportadas) é agora a minha maneira agradecida de olhar para tantas vidas interessantes: porque questionam, reivindicam, criticam,… não descobriram, é certo, a forma mais educada de o fazer, mas a vida adulta tratará de os ensinar.
E agora que aproveito a única aula do período em que me consigo sentar e olhá-los (demasiado concentrados a dar resposta a um teste nada simples) penso no bem que o stôra já me soa e no quanto gosto destes meus alunos exactamente por não serem os obedientes meninos de colégio que toda a gente espera que sejam!
[Sala A3, 11:30 da manhã]

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

chuva!!!!!!!!!!!!

Saí do metro e, em pleno Rossio não consegui conter os braços esticados, como que a abraçar os pingos tímidos que tornavam o chão escorregadiu. É verdade, já tinha saudades de andar à chuva, com a cara virada bem para cima, para ver de onde caem as gotas!!!

a ribeira


no último dia do ano que passou

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

e daqui a dez anos?

Dez anos mais.
Alguém a acordar ao lado de um marido que, reparando bem, já nem acha muito atraente, Alguém a levantar-se apressada porque antes de levantar as crianças, há que fazer almoços (ou requentar jantares passados), engavetá-los em termos, tomar banho e recolocar o sorriso na cara. Há crianças para vestir, levar à escola, mimar. Há um dia de trabalho pela frente: oito horas de stress e cansaço, em frente a um computador ou numa sala de aula. Há um dia de trabalho depois do trabalho a começar, com banhos para dar, trabalhos de casa para fazer, jantar por cozinhar, …
Alguém a adormecer ao lado de um homem com quem, pensando bem, já nem tem assim tanto em comum.
E o que aconteceu em dez anos?
Porque ela desejara passar todos os dias da sua vida ao lado daquele namorado por quem se apaixonara. Porque ela desejava ser mãe acima de qualquer outra coisa. E manter a independência de um trabalho que a realizasse. E passou dez anos a lutar pelo que desejou.

É assustador pensar que podemos alcançar tudo aquilo que desejamos e, ainda assim, não sermos felizes. Numa época em que nos ensinam que a felicidade está na realização dos desejos (sejam eles da ordem do ter ou do ser) é possivel lutar e atingir tudo o que se deseja e viver na mediocridade. E lutar pelo que se deseja é algo muito positivo. E receber como prémio da luta, uma vida mediocre é, no mínimo, frustrante.
A única fuga possivel é lutar por algo maior que um desejo
A única fuga possivel é utopica, ética, do interior
A única fuga possivel é sonhar

E porque sonhar não é uma fuga mas uma necessidade, sonhar não é fechar os olhos a uma ilusão mas traduzir grandes feitos em pequenas coisas dos dia a dia.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005

mais perto do céu


Eu sempre gostei de alturas, de sentir o vento forte na cara no topo de qualquer imensidão. De sentir que estou com os pés assentes na terra (que conheço a realidade em que vivo) e que tenho o céu ao alcance das mãos!
Eu sempre gostei de branco. É uma cor fascinante porque tanto é a soma de todas as outras como a não existência de cor. É uma aproximação simbolica da perfeição, tanto é a imensidão do todo como a ausência de nada.
Eu sempre gostei de testar os meus limites físicos. Gosto de forçar o corpo, de o tornar mais elástico, de testar o medo, de me aproximar da adrenalina.

Era impossivel não gostar de esquiar. Mas a verdade é que não estava à espera de gostar tanto. E de me sentir em casa tão rapidamente. Gostei de estar constantemente na fronteira entre o que posso controlar (a minha força, o meu equilíbrio) e o que é mais forte que eu (as forças e os equilibrios da natureza). E perceber que o prazer de descer uma montanha com um metro de pés está no constante jogo de forças entre o eu e o mundo branco, entre o medo e o domíneo. Ou está simplesmente em disfrutar de estar tão perto de céu e, ao mesmo tempo, tão agarrada à terra! Porque às vezes é dificil explicar as sensações que se aproximam a grande velocidade da imensidão.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

em resposta a um comentário sobre o filme...

Closer é muito mais que um filme em que a intimidade é sinónimo de sexo. É uma história que nos faz parar e pensar que papel precisamos que o outro represente na nossa vida para o deixarmos entrar no nosso mundo. E apesar das relações serem aparentemente fotografadas pelo seu lado físico, o que está expresso em closer é o psicológico que motiva essas mesma relações. E daí o fascíneo do filme. Talvez estejemos "demasiado perto" do ecrã para entender a complexidade do filme à primeira!