domingo, 6 de junho de 2004

café na caneca do FP

Acabou de levantar a mesa e foi à cozinha buscar o aspirador pequenino para aspirar as migalhas da toalha. Voltou a guardá-lo no armário ao pé da porta. Estendeu o pano de trabalho por cima da toalha da mesa onde depositou depois, com cuidado o computador. E começou a trabalhar. Levantou-se pouco depois e voltou à cozinha. Encheu o jarro eléctrico de água, ligou-o à corrente. Olhou pela janela a quietude do pátio traseiro naquela tarde de calor. Abriu o armário dos copos para tirar uma caneca. Procurou por detrás das que via e não a encontrou. Fechou o armário e abriu outro de onde retirou o nescafé. A água parou de borbulhar no jarro. Estava quente. Dentro da máquina encontrou a caneca branca e estreita, com palavras de Fernando Pessoa. Trazia dentro os restos do café do dia anterior. Enquanto a passava por água, com o cuidado de quem tem nas mãos um objecto querido lembrou-se de um filme com uma cena parecida. E sorriu. Abriu o frasco, varreu o pó castanho para dentro da caneca e encheu-a de água quente até meio. O cheiro amargo invadiu a cozinha. Regressou ao computador com um misto de café e poesia entre as mãos. A única combinação que a permitiria sobreviver ilesa a uma tarde quente de trabalho.

Sem comentários: