quarta-feira, 28 de julho de 2004

e agora, onde vamos?

Naquela noite já estavam cansados. Cada um por si e juntos. No cansaço. Mais uma vez e sem saber bem porquê, estavam de novo os três. Numa breve interrupção entre as férias organizadas deles. Numa Lisboa abafada, colina acima, colina abaixo. Numa noite sem nada de especial. Um restaurante no meio do nada, um copo no bairro, amigos à mistura.
E agora, para onde vamos?
Até à Galiza. Assim. Com a janela do carro aberta para entrar o vento morno de uma noite demasiado quente. Sentada torta no banco da frente, pé direito na janela e os olhos postos no céu escuro.
Para o Alentejo. Ficar à sombra sem nada para fazer, sentir o tempo passar sem que pese. Estar simplesmente. Entalado no banco de trás, entre a cadeirinha de bebé e a inércia.
Para o norte, algures entre Trás-os-Montes e Alto Douro, sem saber bem para onde nem porquê. Com a atenção na estrada, e os pés em equilíbrio entre os pedais que não pareciam obedecer.

A mobilidade sempre a fascinou. Se calhar devia ter sido nómada. Partir a qualquer momento sem se sentir presa ao mundo que fica. Partir guiada pelo impulso de querer estar noutro lugar, não por não gostar deste mas pelo gozo de ir. Apontar ao acaso uma localidade no mapa e vaguear atrás dela na realidade. Pensar num qualquer detalhe de um qualquer sítio e ir verificar se se mantém assim. Correr atrás de uma paisagem bonita, de uma cidade confusa, do desconhecido. Sonhar em andamento
.

Apetecia-lhe tanto tomar o pequeno almoço em Serralves, naquela mesa encostada à janela horizontal, com vista para o jardim.
E afinal, para onde vamos?
Partiram para Norte, algures entre Trás-os-Montes e Alto Douro, porque em última instância, é o condutor quem decide! Partiram cansados. Cada um por si e juntos. No cansaço tranquilo.
Boa viagem!

terça-feira, 27 de julho de 2004

quando o drama nos faz sorrir!

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...and the oscar goes to...

A lista estava feita e, à falta de um jantar oficial de encerramento do ano lectivo, não se tornou pública. Vou deixá-la aqui, em homenagem aos meus desanimadores preferidos.


As estrelas VD 2003/04


Nuri > a nossa Estrela
Ana A > estrela solar
Elsa > estrela polar
Miguel > estrela da fidelidade
Pedro > estrela da garra
Silvia > estrela da preserverança
Paulo > estrela da sabedoria
Catarina B > estrela da profundidade
Catarina S > estrela da persistência
Catarina F > estrela da criatividade
Joana > estrela surpresa
Inês R > estrela brilhante
Franisco > estrela revelação
Inês M > estrela da simplicidade
Mariana > estrela da força
Manel > estrela fashion
Maria > estrela directa
Inês Q > estrela da luta

Seguem-se os agradecimentos e a entrega das estrelas-estatuetas.

Esperamos vê-lo para o ano, no sítio do costume, à hora do costume.
Boas férias!

Ps > para qualquer reclamação em relação às nomeações contactar anair e/ou miguelvin

domingo, 25 de julho de 2004

sexta-feira, 23 de julho de 2004

Montemor aqui vou eu!

Chegar a Montemor e ver aquela casa de novo com vida
Olhar para os miúdos do clube e percebê-los tranquilos, em paz
Tomar o pequeno almoço naquele refeitório de paredes caiadas e frescas
Vê-los jogar à bola no relvado do pátio de entrada
Fazer a estrada rumo a Alcácer ao som de qualquer coisa mais-que-comercial-e-em-castelhano, muitos apertados no carro, a dançar aos berros com os braços de fora das janelas
Percorrer os 10km em passo de jogo, meios derretidos pelo sol alentejano e desidratados pela incerteza de água própria para consumo
Arrastar os pés empoeirados pelo caminho que conduzia à vila, uns por si, outros às cavalitas ou de mãos dadas
A alegria de uma fonte, no centro de S Cristóvão
Piscina em Montemor (com muitos saltos da prancha, iniciações à natação e confidências de meninas de papo para o ar...)
Um jantar com sopa alentejana
Um arraial para acabar um grande dia
Uma noite muito escura com milhares de estrelas.

Consegui tirar um dia para ir ter com os miúdos do clube a Montemor. Nunca os tinha visto assim. Transbordavam aquela felicidade que nos torna preocupados com o outro que está mesmo aqui ao lado. Caminharam largos kilometros pelo Alentejo numa tarde tórrida de sol, sem água suficiente. E sem queixumes. Aprenderam a nadar, a saltar cada vez mais alto. E a acreditar que são capazes. Lavaram a loiça e o chão (deixando o respeito ser superior à sua própria cultura). Prepararam uma festa em poucas horas. Souberam ouvir a opinião dos outros. Souberam pedir desculpa. Desafiaram as regras com que estão habituados a viver e provaram que, tal como qualquer outra pessoa, conseguem fazer tudo aquilo a que se propõem.
E confirmei o que estou sempre a dizer na brincadeira. Estes miúdos cativam, mudam-nos de fundo, fazem-nos quebrar barreiras e preconceitos. E quando menos esperamos, damos por nós com saudades...

de os animar. de sermos animados por eles.

sexta-feira, 16 de julho de 2004

profissão: voar

Estou a pensar que podia ser trapezista, quando for grande.
O que acham?

A frustração ou em busca de um caminho perfeito até Montemor

A bem da verdade não era realmente até Montemor que queríamos ir. Queríamos preparar uma caminhada de um dia até à quinta da Amoreira da Torre, a poucos kilometros de distância da cidade alentejana. O percurso já tinha sido feito uma vez há dois anos e na minha cabeça seria muito fácil refazê-lo.
Escolhemos um tórrido dia de Julho e o meio da tarde para sair de Lisboa (inteligentes). A viagem começou bem. De tanto cantarmos enganámo-nos na saída da auto-estrada e quase chegámos a Alçacer do Sal. Mas íamos realmente bem dispostos e musicais, o que desculpa quase tudo!
Em Montemor, enchemos as garrafas de água e tirei mapas e cartas militares do fundo da mochila.
Tínhamos de sair de Montemor pela estrada rumo ao Escoural. Mas as placas na cidade indicavam uma estrada de desvio que nos fez dar uma volta de meia hora para chegar à estrada que queríamos.
Tínhamos de sair para um caminho de terra batida ao Km 529,5. Mas a estrada estava em obras e tinham retirado os pequenos marcos de pedra que a medem. E não encontrámos a entrada de terra batida.
Entrámos na seguinte e fomos de carro até onde o carro de cidade nos permitia ir. Saímos os dois de mapas na mão e elas voltaram para trás.
Devíamos andar por montes, quintas e vales mas a carta militar que tinha era de 1966 e apesar dos montes e vales serem os mesmos, o curso da água e os caminhos estavam muito mudados.
Seguimos o norte que a bússola barata indicava, com uma ou outra referência e muita incerteza quanto à certeza de chegar ao destino.
E andamos
andamos
andamos
em passo de passeio e em passo quase de corrida
seguros de onde estávamos e completamente perdidos
E os cruzamentos do mapa não existiam na terra e as lagoas do caminho não estavam no papel. E nem os postes de electricidade eram os mesmos.
E continuávamos a seguir o norte, porque o a quinta para onde queríamos ir ficava nessa direcção e porque em caso de dúvida, o norte é sempre a mais forte das direcções a seguir.
E andamos
andamos
andamos
em passo de passeio e em passo quase de corrida
seguros de onde estávamos e completamente perdidos
E quando parámos num monte agrário para perguntar o nome daquele sítio, descobrimos que já não estávamos longe da estrada principal. Só que não era a estrada principal para onde queriamos ir… Acabaram por nos ir buscar à estrada que vai dar a Évora.
Se não nos apanhassem continuaríamos noite dentro, rumo ao Norte! Porque é difícil parar alguém que traz em si a frustração de um desafio não superado.

Valeu a contemplação de um por do sol alentejanos, muito quente e parado por detrás da planície.

Bola de fogo surda.

Ps Domingo volto para montar o caminho. Sem os kilometros marcados na estrada, sem a carta de 1966 mas com o dobro da vontade de chegar!

segunda-feira, 12 de julho de 2004

Sophia

no meio de uma semana que se revelou demasiado intensa, não tive tempo de aqui prestar a minha homenagem àquela que considero a grande senhora da poesia portuguesa. Pode parecer tendencioso (ou oportunista) mas a verdade é que foi a prosa de Sophia de Mello Breyner que me mostrou que o mundo pode ser descrito da forma mais simples e luminosa possivel. Foi com ela que aprendi o poder que tem um (dois ou frequentemente três) adjectivos. Foi por ela que percebi que as palavras também dançam, também voam. Foi ainda esta senhora que me ensinou que isto de literatura para crianças é algo muito pouco infantil. E ao chegar à poesia fico sem palavras.

No poema ficou o fogo mais secreto
O intenso fogo devorador das coisas
que esteve sempre muito longe e muito perto
[Sophia]

Fiquei triste quando soube da sua morte. Consola-me o saber que há pessoas que são eternas!

once upon a time...

apesar de não ser tão tcha txã como o primeiro, não deixa de ser uma deliciosa história do que realmente importa na vida!
o ogre verdenum cinema perto de si!

sexta-feira, 9 de julho de 2004

(não sei como chamar a este post)

No outro dia, sentada à janela do metro, fui inundada pelo sol-de-fim-de-tarde que me invadiu a retina ao chegar ao Campo Grande. Durante um instante só vi laranja e quente. Luz. E pestanejei.

Pergunto-me inúmeras vezes onde estará o extase da vida. E aos poucos vou chegando à conclusão que não está nos momentos de grande euforia ou limite (embora tb possa estar aí). As alturas em que me senti mais perto do que costumamos chamar felicidade foram os momentos que tive de maior paz interior. De real tranquilidade. De harmonia. De tréguas entre as muitas forças e energias que me compõem. De me saber e sentir una e única.
Há alturas em que a temperatura está no ponto exacto, tão exacto que não saberiamos dizer se temos frio ou faz calor.
Há momentos as coisas parecem fazer sentido exactamente onde estão e como estão.
Há breves fracções de tempo em que tudo está no sítio certo. Nós. O mundo. Os outros em nós e no mundo.
Há tempos em que a nossa vida é realmente feliz.
E há centésimos de segundos em que tenho a impressão de que o mundo parou de girar. Que tudo está sereno e brilhante. Que os problemas são parte integrante de uma vida com sentido, que as dificuldades são desafios, …
Nessas alturas, a contemplação é a mais agradecida forma de estar no planeta terra. Nesses segundos sei que sou capaz de olhar de outra forma qualquer pessoa, sei que sou capaz de perdoar qualquer coisa (porque não há nada que tenha realmente peso), sei a importancia que os outros têm na minha vida, sei.
E depois,
como que por magia,
tudo recomeça a mexar e a vida segue o seu trajecto próprio pelas rotinas do quotidianos.

Ps | às vezes pergunto-me se nesses instantes estarei realmente na terra. (estranho) resta-me a certeza que é nessas alturas que mais pertenço ao mundo.