sábado, 5 de junho de 2004

um filme muito educado

Depois de 5m de qualquer filme de Pedro Almodovar estou rendida. Rendida às cores saturadas e quentes que me enchem a alma, aos detalhes decorativos retro que me fazem sorrir. 5minutos é o tempo necessário para me sentir familiar e confortável a olhar em castelhano o grande ecrã. Mas até eu que fico perdida nos pormenores consigo perceber que um filme é mais que cor e adereço.
A expectativa que levava comigo para a sala de cinema era perigosamente grande. Já tinha ouvido os mais diversos comentários em relação a esta Mala Educacion: que era forte, que era chocante, que era uma decepção.
Achei-o um filme bem educado. (arrisco até a dizer, delicado)
Uma história forte (porque fala de abusos sexuais, de pedofilia, de uma instituição igreja sem moral e do ser humano pronto a xular o ser humano)
Sem cenas chocantes ou decepcionantes (porque nada é retratado de uma forma fria, nua)
A tensão de algumas cenas é puramente estética (e daí a delicadeza): é fotografia e som que envolvem e deslumbram sempre, sempre com o corpo como elemento dominante (o jogo da bola ao som do Kírie, as canções do jovem colegiano, o fabuloso mergulho na piscina, os cabeçudos).
E os personagens são muito personagens: um mundo de sentimentos muito puros encobertos por muitas camadas de maquilhagem, por vezes bem visível, outras pouco assumida.
E além da cor e dos ambientes que me fascinam, Almodovar trouxe-me desta vez o suspenso dos corpos que transportam histórias com eles. Não é um filme que seduza facilmente como os últimos dois. É um filme que obriga a parar, pensar e escrever. E isso é fascinante.

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