segunda-feira, 29 de novembro de 2004

recordações são ...

...mares de lágrimas?!?!?! (não me lembro da frase, ajudem-me)

2046



Cada vez mais me convenço que vivemos no limbo entre o que fomos e queremos ser. É uma espécie de sensação vaga que me tem invadido e que tem sido confirmada por inúmeras pequenas circunstâncias do meu dia a dia.

2046 é um espaço ao qual se regressa por se estar em guerra com o presente. Ou por não se ter feito as pazes com o passado. (Será a mesma coisa?)

2046 é um tempo de que não se regressa quando o passado é mais nós que o que vivemos quotidianamente (porque na altura fomos felizes ou porque a ideia que agora temos da altura é a de felicidade).

2046 é um espaço do qual não regressamos porque o afecto nos prende na memória. E voltar ao presente é doloroso porque é confrontar uma idealização com a realidade.

O filme fez-me ter a certeza de que entre a ilusão passada e o sonho futuro, vale a pena caminhar para a frente. Escapar à estética perfeita de 2046. Enquadrando a vida de um canto do ecrã.

terça-feira, 23 de novembro de 2004

olhemparamim

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É incrivel como o realizador consegue fazer uma crítica tão severa à forma como nos movemos socialmente a partir unica e exclusivamente de planos parados nos olhares, nas expressões e no humor.
Para quem é que olhamos, afinal? Quem queremos que olhe para nós?

quarta-feira, 17 de novembro de 2004

A perfeita trilogia

Uma casa lá prós lados da antiga expo: zona civilizadamente urbanizada, com passeios pedestres e jardins com ondas. Num prédio que lembre vagamente um barco.
Vista pró rio, como não podia deixar de ser. De uma grande varanda de pedra recente. Janelas de vidros duplos em caixilhos de alumineo . Soalho flutuante, de madeira sem falhas e de preferência daquele castanhinho claro deslavado (vulgo pinho). Sanitários do mais hi-tech que há (porque a tecnologia também chega à casa de banho), com cerâmica espanhola a revestir as paredes. Uma cozinha completamente equipada em diferentes tonalidades de negro.
As ultimas tendências do IKEA: geométricas, sintéticas e coloridas, espalhadas pela casa para mostrar que o design traduz uma mentalidade aberta e contemporânea.
E na mesa baixinha da sala, a trilogia perfeita para provar que a cultura habita naquela casa: um livro de arquitectura moderna, outro de fotografia a preto e branco e um terceiro de culinária vegetariana!

E só não percebo como é que ainda ninguém se lembrou de vender os três num só pack.
O Kit de decoração para pseudo-intelectuais à procura de casa!

segunda-feira, 15 de novembro de 2004

pedro e inês

dançar
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com a vida, ou com a morte, dentro de água, no palco do teatro camões.

"encontro-te a olhar para lá..."

Querida Cláudia,
É verdade que estou a olhar para lá, demasiado para lá do horizonte, a dois mil, seiscentos e tal metros de altura. E não estou de costas, mas de frente para o mundo. Braços semi-abertos para sentir a brisa na pele. Não sei como é quem está ao meu lado mas fascina-me. Porque trepou uma montanha agarrado por uma corda. Porque o vi aparecer do meio das árvores, vencedor e agora olha o mesmo mundo que eu, lá em baixo. Um desconhecido (a minha eterna atracção por desconhecidos). Tenho o pé direito ligeiramente para trás, em equilíbrio na vida. Trago a tiracolo a minha máquina fotográfica (sempre a paixão do registo) e às costas o peso de já não sei quê! E as nuvens difusas lá estão, entre o céu e a terra, tornando o horizonte pouco nítido, fazendo-me crer que o futuro é isso mesmo, uma linha incerta entre o espaço que fui e o que aspiro ser. Separa-me do vazio uma grade metálica e mesmo sabendo que às vezes sei voar, não vou saltar. Descerei a pé pelos caminhos de terra.