quinta-feira, 25 de março de 2004

O tempo em que troquei a minha cama por um pedaço de chão em Delft

O silencio partilhado e compreendido.
O céu cinza e azul e sempre perto.
Conversas importantes e palreios interessantes.
Pontes que dançam, espaços que vibram.
Café no topo de uma biblioteca, entre o azul e a relva.
Bafuradas de luz de camel e ventil.
Pedalar e pedalar e pedalar.
Enfrentar o vento de pé até ao limite do frio me fazer voar.
Cidades e campos reflectidas nas janelas do comboio.
Música dentro e fora de nós.
O espaço e a arquitectura pelos olhos deles.
Café com bolachas pequeninas.
O sorriso a permanecer depois do cansaço dos dias.
Poesia e cerveja.
Nuvens a rodar a uma velocidade incrível.
A praia de inverno no inicio da primavera.
Arrumar a casa em tempo de mudanças. Sem seguros de vida.
Como não?
Jantares cozinhados à vez e saboreados a três.
Lost in translation

O saber-me em casa... numa terra onde nunca tinha estado e com a qual não tinha afinidade alguma.
Exacto.

Sim, é um role de frases sem sentido, sem fio de união, sem um léxico correcto; como que flashes de memórias que vão e vêm sem que lhes dê a devida importância ou significado.
Sim, é uma partilha que partilha muito pouco porque não acrescenta nada.
Sim, às vezes as palavras parecem ficar àquem do suspenso do pensamento. E não é fácil materializar.

E de uma semana em Delft, partilhada a três fica-me a certeza de que estar em casa é estar num espaço familiar, é estar onde nos sentimos confortáveis porque nos sabemos aceites. E que não são as paredes físicas ou o espaço geográfico que determinam a familiaridade. É o respeito honesto.
E de uma semana na Holanda, vivida a três, regresso com a certeza de que a paz se encontra nas pequeninas coisas e nas grandes pessoas. Nos silêncios que não incomodam e nas gargalhadas ruidosas.
E de um caminho no estrangeiro, percorrido a três, percebi que as amizades se fazem de semelhanças e diferenças olhadas com amor.
Um obrigado tão grande à Sílvia e ao Pedro.

domingo, 7 de março de 2004

nos dias em que...

nos dias em que a vida teima em pesar mais,
em que o sofrimento bate à porta de mansinho fazendo ronha para ficar
nos dias em que o frio se instala cá dentro e nem as lágrimas parecem querer sair
nos dias que os braços estáticos são incapazes de ajudar
nos dias em que o desespero da impotência se infiltra no ser

nesses dias,

vale a pena olhar mais alto, olhar mais longe, olhar mais fundo
e procurar o horizonte longe de nós.

e gritar e ranger e partir
e descansar no colo de quem serenamente gosta de nós.