sexta-feira, 16 de julho de 2004

A frustração ou em busca de um caminho perfeito até Montemor

A bem da verdade não era realmente até Montemor que queríamos ir. Queríamos preparar uma caminhada de um dia até à quinta da Amoreira da Torre, a poucos kilometros de distância da cidade alentejana. O percurso já tinha sido feito uma vez há dois anos e na minha cabeça seria muito fácil refazê-lo.
Escolhemos um tórrido dia de Julho e o meio da tarde para sair de Lisboa (inteligentes). A viagem começou bem. De tanto cantarmos enganámo-nos na saída da auto-estrada e quase chegámos a Alçacer do Sal. Mas íamos realmente bem dispostos e musicais, o que desculpa quase tudo!
Em Montemor, enchemos as garrafas de água e tirei mapas e cartas militares do fundo da mochila.
Tínhamos de sair de Montemor pela estrada rumo ao Escoural. Mas as placas na cidade indicavam uma estrada de desvio que nos fez dar uma volta de meia hora para chegar à estrada que queríamos.
Tínhamos de sair para um caminho de terra batida ao Km 529,5. Mas a estrada estava em obras e tinham retirado os pequenos marcos de pedra que a medem. E não encontrámos a entrada de terra batida.
Entrámos na seguinte e fomos de carro até onde o carro de cidade nos permitia ir. Saímos os dois de mapas na mão e elas voltaram para trás.
Devíamos andar por montes, quintas e vales mas a carta militar que tinha era de 1966 e apesar dos montes e vales serem os mesmos, o curso da água e os caminhos estavam muito mudados.
Seguimos o norte que a bússola barata indicava, com uma ou outra referência e muita incerteza quanto à certeza de chegar ao destino.
E andamos
andamos
andamos
em passo de passeio e em passo quase de corrida
seguros de onde estávamos e completamente perdidos
E os cruzamentos do mapa não existiam na terra e as lagoas do caminho não estavam no papel. E nem os postes de electricidade eram os mesmos.
E continuávamos a seguir o norte, porque o a quinta para onde queríamos ir ficava nessa direcção e porque em caso de dúvida, o norte é sempre a mais forte das direcções a seguir.
E andamos
andamos
andamos
em passo de passeio e em passo quase de corrida
seguros de onde estávamos e completamente perdidos
E quando parámos num monte agrário para perguntar o nome daquele sítio, descobrimos que já não estávamos longe da estrada principal. Só que não era a estrada principal para onde queriamos ir… Acabaram por nos ir buscar à estrada que vai dar a Évora.
Se não nos apanhassem continuaríamos noite dentro, rumo ao Norte! Porque é difícil parar alguém que traz em si a frustração de um desafio não superado.

Valeu a contemplação de um por do sol alentejanos, muito quente e parado por detrás da planície.

Bola de fogo surda.

Ps Domingo volto para montar o caminho. Sem os kilometros marcados na estrada, sem a carta de 1966 mas com o dobro da vontade de chegar!

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