sábado, 3 de setembro de 2005

De volta à minha adolescencia

e aos seus heróis.

Devorei cada palavra, cada imagem da pequena casa-museu de Alta Gracia, onde viveu Ernesto Guevara muito antes de se tornar no Che.
Os seus olhos já nasceram com a intensidade que lhes conhecemos da fotografia que o mundo difundiu como ícon da luta pela igualdade social. (e de que cada um se apropria para simbolizar a sua propria luta)
Ao que parece foi um menino meigo e com muitos amigos com quem gostava de brincar às guerras. Era sempre o lider do grupo. A asma tornou-o devorador de livros e capaz de superar o seu próprio físico. As viagens tornaram-no consciente da realidade da América Latina. Quem o tornou revolucionário? E poeta? O que o tornou capaz de, ao mesmo tempo, matar a sangue frio e emocionar-se pela miséria alheia?

Esta foi a herança que deixou aos filhos, escrita numa carta antes de abandonar Cuba, em 1965:

“Sobre todo, sean siempre capaces de sentir en lo más hondo cualquier injustícia cometida contra cualquiera en qualquier parte del mundo. Es la cualidad más linda de un revolucionario.”

Esta é também parte da herança que levo da Argentina.

1 comentário:

argumentonio disse...

ao contrário da poeira, que não tem pertença, as palavras são de autoria reclamada ou reconhecida e ganham a cor do vulto de que emanam

vindas de um revolucionário exemplar, as loas às qualidades de um revolucionário pertencem a juiz em causa própria, embora de interesse devida e honestamente registado

são gigantes as palavras

e ainda assim, queremo-las de herança, aprisionadas junto ao peito que queremos fortalecido

mas a percepção é selectiva e valorizamos exactamente o que nos vai na alma ou o que julgamos ou queremos ser

ficamos pois a ganhar o que já éramos, se apenas adquirirmos as palavras, sem as questionar, sem as transformar, sem lhe acrescentarmos (afinal) um pouco da poeira que fica da vivência de tantas perplexidades como as dos contrastes entre territórios, gentes, culturas, meios, circunstâncias, momentos

estes, instantes que sabemos irrepetíveis, são eternos por nos devolverem a memória de que somos feitos e a vontade de voltar a ser felizes, no lugar da infância, no tempo da adolescência, nos braços de quem nos amou, nos sonhos de quem amamos

mas os revolucionários superam as palavras, mesmo e sobretudo nos actos frios, oferecendo ao mundo as mudanças que idealizaram ou outras que não souberam prever e ninguém susteve

vá lá a gente saber se ficamos a ganhar...

para o revolucionário, chega a ser indiferente o resultado, o centro é o acto, a acção, a revolução

é que é preciso transformar

glória pois a quem age, a quem parte, a quem ama, a quem repara nas contradições do mundo, a quem nelas toca e perfuma, a quem abre caminhos, a quem os trilha e a quem deles nos diz algo, tanto, a quem dá, em troca de lama e poeira, oxalá prazenteira e gratificante a final !!

e não é também revolucionário quem ama palavras revolucionárias ?