quarta-feira, 21 de abril de 2004

a pedido de um amigo... um texto que já estava arrumado

Descobri Paris uma cidade quase tão luminosa como Lisboa. O Outono estava a despedir-se de uma forma vistosa, largando as folhas amarelas, quentes e castanhas, vermelhas-tijolo que cobriam os passeios lisos, as pontes sobre o Sena e o verde dos jardins. Mas o calor resumia-se à cor do chão porque o céu era azul-acinzentado, frio, quase tão frio como o ar claro que me gelava as mãos (mesmo com luvas calçadas e recorrendo ao quentinho dos bolsos).
Paris tem, a claridade de uma cidade com séculos de história que não esconde. Está ali, tranquila, vertical na quantidade de igrejas góticas, acolhedora nas pequenas livrarias e cafés de rosto colorido, simples nas ruas limpas de prédios claros. Ás vezes parece que não é uma grande capital europeia mas uma pequena vila no meio do nada. E o engraçado é que os parisienses vivem a cidade onde vivem: passeiam e lêem nos jardins, visitam os museus, ouvem música nas igrejas, comem crepes e paninis nas ruas, como se soubessem com convicção que aproveitar a cidade ao máximo é torná-la mais deles.
Senti-me em casa. Se calhar porque também passei pelos jardins, ouvi música na Notre Dame e comi frequentemente na rua. Se calhar porque Paris transpira cultura de uma forma acessível a qualquer um e isso fez-me voltar a acreditar que a arte e a beleza nascem para todos. Se calhar porque é uma cidade que se deixa contemplar até já não haver mais espaço na alma para a absorver.
E fez-me ter a certeza que viajar é sempre uma experiência estética, entre sonhos e memórias.

Isto pode não parecer mas é uma petição a favor de que se viva intensamente este espaço físico-cultural-afectivo a que frequentemente chamamos Lisboa
>nov03

Sem comentários: