Último jantar entre caixas e caixotes.
Último serão em frente à televisão na sala que tem portas cor de laranja.
Última noite na minha cama, na imensidão do quarto da parede vermelha.
A minha tralha não cabe no sitio onde vou morar. Lá não há quarto de vestir nem uma casa de banho desenhada por mim, com janela e chuva na banheira. Lá não há pátio para as minhas plantas crescerem. O chão não é de madeira velha, as janelas não têm portadas, as portas são todas iguais.
O meu eu não cabe no sitio onde vou morar.
Po cá ficam metade das coisas que também eram minhas. Fica a oliveira que esteve outrora morta. Fica um espaço de sonhos e projectos falhados.
E assim do nada vem-me à memória o dia em que para cá me mudei. E penso como é possível que em menos de dois anos esta casa, com os seus detalhes e o sítio onde está, se tenha tornado tanto no meu espaço.
3 comentários:
virá o tempo de novos sonhos e novos espaços e projectos... quem sabe ainda mais saborosos e aliciantes!
as vezes o que parece transitório e de passagem é muito importante para se preparar o futuro que ai vem.
com tanta vida e tanta intensidade dentro de ti tenho a certeza que a nova casa rapidamente se vai tornar muito tua e aconchegante.
beijinhos de coragem e esperança
catarina
O nosso espaço mais verdadeiro (talvez o único que realmente interessa)é o espaço interior.O espaço sem coisas materiais, sem tralha(s). O espaço com e sem "portas" e "janelas" das cores que só tu quiseres. Esse espaço não tem 1/2, nem 1/4, nem 1/8, pq é um todo. Ora, desse espaço creio mesmo que não tens falta, pelo contrário parece-me em grande crescimento (para o qual as mudanças na vida dão um enorme contributo, mesmo quando não o conseguimos perceber de imediato). O teu Eu caberá sempre em qualquer espaço, no espaço onde estiveres, que é o teu Espaço real. Mil beijos, Tieta.
O teu "eu" cabe no espaço que tu quiseres, na dimensão que tu criares, nas vontades que um dia surgem e vão iluminar a tua imaginação e fantasia.
Beijinhos
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