domingo, 21 de maio de 2006

onze da manha, na baixa

Onze da manhã. Domingo de sol. Por me ter esqueciso de programar a máquina de lavar, levanto-me e carrego no botão que dá origem a um sem número de barulhos dentro do tambor. Resistentes, 40º, roupa preta às voltas entre água, anti-calcário (que aqui é mais abundante que a própria água), detergente e amaciador. De regresso ao quarto sou chamada pela luz intensa que entra pela janela de portadas escancaradas e sento-me na minha cadeira-de-pensar-com-vista-para-as-águas-furtadas-dos-prédios-do-outro-lado-da-rua. O dia está limpo, de céu azul e ouve-se o electrico lá em baixo a passar. A internet é uma realidade desde ontem e esta meia hora matinal em frente a Lisboa abre-me uma posibilidade há muito perdida…..voltar a escrevinhar!

As grandes mudanças na vida, às vezes acontecem sem que na altura se tenha a noção da dimensão do que se muda. Num fim de semana embrulho a tralha toda e empacoto a vida para a voltar a arumar do outro lado da cidade, na casa nova que tem o peso dos duzentos anos de idade.
Mudei de casa, de forma e estado de vida!
Três semanas passadas, entre o ocupado dia a dia que já tinha, lides caseiras e preparações de casamento, o tempo parece que não existe. E o que não voa é reclamado para o descanso que a independencia sente-se no corpo.
Três semanas passadas o balanço não podia ser mais positivo. Já não me imagino noutra forma de vida, sem acordar acompanhada neste quarto andar sem elevador, sem atravessar de manhã as ruas da baixa para chegar ao metro, sem o som dos sinos das igrejas, sem os jantares cozinhados a dois, sem os fins de semana todos por nossa conta.
Falta regressar muito ao cinema, ao teatro, ao bairro, aos amigos, às jantaradas e às exposições… É que as mudanças enormes implicam tempo para reajustes nos tempos.

Onze e meia da manhã. Uma badalada lá fora. Domingo de sol. Regresso à cama para os últimos minutos de ronha antes do despertador tocar…