quinta-feira, 7 de julho de 2005

I am what I am [ou a apologia da palavra]

Tive em tempos um instrutor de condução que não tinha partido político, religião ou clube de futebol para não ter de se chatear. O homem era parvo, é bom de ver, e essa atitude perante a vida não só me irritava como deixava o meu eu de 18anos profundamente indignado. Como era possivel alguém se negar a assumir uma posição perante a vida! Ás vezes parece-me que se generalizou uma forma fácil de estar em sociedade, como que uma sintonia de opinião que evita discussões, chatices mas também passa ao lado de grandes conversas, de divagações pseudo-filosoficas, de descobertas interiores de nós e dos outros. É facil não questionar, não discordar, não criticar… e viver cinicamente neste mundo.

Ainda bem que ainda há quem tenha: cor politica, não-religião e fanatismo futebolistico!
E quem não tema falar e discutir: deambular pelas palavras pelo prazer de as ouvir (de se ouvir e de ouvir os outros); falar para partilhar o que se é e descobrir o mundo; argumentar, nem que seja pelo prazer de ganhar uma discução, …
Que bom que haja quem negue ser cinico perante o mundo. Ser honesto implica assumir as falhas do passado, os esquemas da personalidade presente e a fragilidade dos sonhos.
Ainda bem que há quem encare a honestidade não como uma fraqueza mas como uma forma de relação com a vida.
Afinal de contas, nós somos o que somos
e é de o assumirmos que nos tornamos especiais!

6 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem q é manifesta a minha cor política, a minha não-religião mas, sobretudo, o meu fanatismo futebolístico...ainda bem q é notório e q não te incomoda...aliás, segundo a tua opinião, é uma mais valia!
E sim, argumento, nem q seja pelo prazer de ganhar uma discussão...e contigo dá-me imenso prazer (porque és inteligente e não viras a cara à luta)!
Vou assumir que escreveste a pensar neste SuperT (ai ai este meu super Ego)... e por isso queria dar-te os parabéns pela análise certeira e sincera...espero que a minha honestidade perante a vida não te desiluda.
Deixa-me dizer-te também, sem rodeios, que te admiro muito (pela tua frontalidade e independência) e, no que depender de mim, farei tudo para nunca te deixar ficar mal, em todos os aspectos!
Um beijo e vemo-nos por aí...

argumentonio disse...

discussão, argumento ? presente !

na realidade (para evitar um "honestamente" decerto contraproducente, como se verá...) acredito pouco que "somos o que somos" ou mesmo que somos quem somos - as contas são difíceis de fazer, todos mudamos e muda a forma como somos vistos, entendidos, apreendidos (pressupondo que para a compreensão de quem somos interessa também levar em conta o que reflectem os olhos que nos vêem) e o "afinal" pode bem ser precário o suficiente para algum adiamento enquanto se apura e depura a reflexão, a análise e a plausibilidade das conclusões...

aceita-se que algumas certezas podemos ou devemos ter, pelo menos em certas idades, no esplendor da relva (setinha direita a prazenteira cinefilia da poeiraa) e no fulgor do saudável e benfazejo idealismo

há até uma historieta sobre o tema, em que dois amigos tergiversam: diz um - as pessoas que têm muitas certezas não são lá muito inteligentes, pois não ? ao que o interlocutor desanuvia - achas mesmo, tens a certeza ? e responde o primeiro - absoluta !

mas para além da graça quanto ao definitivo da incerteza, certo é que mesmo a honestidade parece merecer desconfiança - quer quanto à própria (alguém é ou deixa de ser honesto por mudar de religião ou de não-religião, de clube, de conjuge, de partido, de ideias, de certezas, de conceitos, inclusive de noção de honestidade ?) quer quanto à alheia, nas suas diversas modalidades: a afirmada, a percebida, a comprovada, a que veio mais tarde a revelar-se, a que se desfez em espuma ? neste ponto, apetece parafrasear Voltaire quando sabiamente afirmava ser a inteligência o bem mais generosamente distribuído por Deus pois cada indivíduo reclama deter uma porção substancial, com inusitada frequência julgando-se acima da média na matéria

mas diria que importa reconhecer a validade - sim, é quase como estar de acordo mas ainda assim vale a pena saborear e quase só vale a pena se se puder saborear - da apologia da palavra, no geral, na denúncia do cinismo, no interesseirismo ou desmazelo do apartidarismo pusilânime

vale no entanto abrir uma ou outra pequena mas preciosa válvula de escape: há clubes simpáticos que dispensam fanatismos; há cores políticas que aproveitam a luz dos debates esclarecidos, ainda que partidários, registados que sejam os respectivos interesses; há entendimentos ecuménicos que respeitam as diferentes religiões, que as procuram estudar e compreender como podem ajudar os homens, os povos e a humanidade (aí estão, próximos, os conceitos Pessoanos de indivíduo, nação e humanidade) a promover a dignidade humana, a paz e a fraternidade

por recurso, é claro, à clarividência, à informação, à crítica lúcida e construtiva, à palavra, ao amor, ao caminho a percorrer e ... à poeira que (nos)fica!!!

indigente andrajoso disse...

porque nao pode haver honestidade na não escolha de uma cor, seja pela razão que for.

falas em ter "opnião", não ter opinião é tambem uma opinião, é um "statment" uma afirmação, nem que seja do desconforto e descrença com o que existe, alias acredito mesmo que pode mesmo ser uma posição mais forte do que aqueles que tem opinião porque a escolhem de entre um catalogo existente.

eu tambem não tenho cores, tenho convicções que de nada tem a ver com as cores existentes, se isso acontecer são meras coicidencias.

não tenho religião, não tenho partido e detesto futebol, e que ninguem me chateie com isso. mas se chatearem dou luta, e dou muita mesmo. afinal sou um teimoso homem com opinião

e sou honesto quando digo isso.

pior que escolher não se envolver nas cores, é se escolher uma cor porque se tem que escolher uma cor... mas tambem posso estar errado

Anónimo disse...

se a não-escolha, não-opinião, não-acção resultam em afasia, apatia e cobardia, longe fiquem tantos nãos

fugir à carneirada sim, mas tem mesmo que ser a poder de tanto não ?

venha de lá essa fé, de várias cores, partidos e religiões - o Salazar é que reduzia tudo à não-opinião, ele é que sabia, estava tudo pensado e escolhido

ora se há desconforto, honesto é procurar formas de o exprimir, até para exemplo de outros desconfortados sem entusiasmo ou alento para a inicitaiva de superar as causas do desconforto

alguma coisa há a fazer !

como sacudir a poeira, para avançar, saboreando a que fica

indigente andrajoso disse...

isto não é o 1984....

mas no no final o que fica é uma constante vontade de não ficarmos com poeira de não nos mexermos...

argumentonio disse...

ou seja, em 1948 havia quem tivesse opinião, denunciando por antecipação para cativar o entusiasmo de muitos contra os perigos da não opinião de tantos

e, afinal, nem tudo era pura ficção ! ! !