segunda-feira, 2 de maio de 2005

castelos, fortalezas

E aos poucos, outro instalou-se. E eu que pensei que tinha as defesas am alta (qual castelo bem murado) fui deixando que a falta de amor corroesse a pedra do que era. e o castelo cedeu. aos poucos, sem que eu percebesse senão muitos meses depois.
Pergunto-me se temos noção do que os outros fazem em nós na altura em que o fazem (e a pergunta tanto é válida para o que fazem de mal como de bem). Pergunto-me se temos noção do que fazemos no outro.
As vezes olho algumas das pedras da fortaleza que fui, ainda derrubadas na areia e choro a sua reconstrução. Porque sei que depois de violentamente deitadas a baixo, erguer-se-ão, duplamente fortes, impenetraveis. E ser impenetravel não é ser humano. E irrito-me porque o meu castelo não tinha de ter sido corroído pela violência de outros. E irrito-me por ter permitido essa violencia aos outros. Será que temos noção do que os outros fazem em nós? Será que temos noção do que fazemos nos outros.

2 comentários:

Anónimo disse...

Também me interrogo, sobre as marcas indeléveis que outros deixam em nós e nós nos outros; como mesmo sem sabermos, as vidas e os percursos de uns e outros são reciprocamente tocados. Cada vez mais me parece que ainda estamos longe de compreender a riqueza dessa influência mútua e, por isso, me alegro por haver quem não viva indiferente ao que o rodeia, aos outros, e à marca da sua passagem. Tal como os outros não se apercebem do fazem em nós, muitas vezes padecemos da mesma cegueira, não vislumbrando em que é que os nossos gestos e palavras atingem (positiva ou negativamente) os outros. Atrevo-me a dizer, sem absoluta convicção, que em certa medida tem a vantagem de nos libertar de exercer um poder que nem sempre deve estar nas nossas mãos.
Quanto ao erguer dos muros, creio que a fortaleza, que somos individualmente, não se compadece das construções que erguemos em defesa de uma desejada ausência de sofrimento. Do Amor nem vale a pena protegermo-nos, não é verdade? Leio as duas estrofes finais do “ Como vão acreditar?” e penso que também deves crer no mesmo. Não há muralha sem frestas (e ainda bem). Vejo as cores que o teu olhar consegue captar e tenho a certeza de que as lágrimas e risos, as pedras caídas da muralha e a reconstrução daquelas, serão sempre tuas companheiras. Parece-me inglória a luta para nos protegermos daquilo que a Vida nos dá de melhor: a capacidade de sentir.
Amar, sofrer e reconstruir, e continuar a amar, sofrer e reconstruir... Valerá a pena outra forma de existir?

Anónimo disse...

acabei de ser derrubada há uma semana.... mas os dias não têm valor nesta contagem. O meu castelo foi construído e já ia até ao grande céu. foram tantas horas a fazer cimento para juntar os blocos de pedra que agora só com um sopro caem... caem eles... e eu? sinto que estou firme... será estranho ou serão apenas algumas horas até sentir que fui mesmo derrubada com um pontapé frio???