quarta-feira, 5 de janeiro de 2005

Há coisas que são porque têm que ser

Deu com ela no exacto local onde tinha de estar. A espreitar por aquela horizontal janela, para o jardim cuidado. Sentia saudades daquele espaço desde o dia em que começara o Verão. Esperou por aquele instante meses a fio, desde o momento em que o verbalizou. E o ano começou assim, no local onde tinha de começar, a espreitar o mundo por uma janela e a sorrir ao sol.

Como o tempo estava inesperadamente bom, saiu para a varanda e o jardim, lá em baixo, tornou-se mais amplo. Entre o café quente, o sol a bater nas costas e uma mesa cheia de amigos, aquele local pareceu-lhe deliciosamente pacifico. Um bom pressagio para o ano que acabara de começar. Tempo de serenidade num ano de mudanças!

1 comentário:

argumentonio disse...

e a serenidade pode bem ser o adro da temperança, de que tanto precisamos !

já das mudanças, cuidados de Poeta, mal é que sejam menos do que deviam

mas se o intimismo do quadro motiva a que não se perturbe - para que perdure em seu encanto delicado e gratificante, como os locais de infância a que queremos voltar, sempre e em cada início de ano - certo é que há um salto a preencher entre o Verão da premeditação e o Inverno da fruição

em jeito de ponte de uma a outra estação, vai um escrito outonal, com a sintonia de um q.b. de bucolismo mas promessa de outras canções ... quiçá para celebrar esperadas mudanças

a tout a l'heure, então

antonio


"C’est toujours plus tard qu’on ne pensait. Septembre est passé si vite, plein de contraintes de rentrée. En retrouvant la pluie, on se disait “Voilà l’automne”; on acceptait que tout ne soit plus qu’une parenthèse avant l’hiver. Mais quelque part, sans trop se l’avouer, on attendait quelque chose. Octobre. Les vraies nuits de gel, dans la journée le ciel bleu sur les premières feuilles jaunes. Octobre, ce vin chaud, cette mollesse douce de la lumière, quand le soleil n’ést bon qu’à quatre heures, l’après midi, que tout prend la douceur oblongue des poires tombées de l’espalier.

Alors il faut un nouveau pull. Porter sur soi les châtaignes, les sous-bois, les bogues des marrons, le rouge rosé des russules. Refléter la saison dans la douceur de la laine. Mais un pull neuf : choisir le nouveau qui va commencer de finir.

Dans des tons vertes ? un vert d’Irlande, pois cassé, brumeux, whiskey rugueux, sauvage et solitaire comme les champs de tourbe, de l´herbe rase. Mais roux ? il y a tant de rousseurs, chevelures ophéliennes, désir de goûter comme avant, pain-beurre-pain d’épice, forêts surtout, rousseur du sol, rousseur du ciel, insaisissables odeurs de foires et bois, de cèpes e d’eau. Et grège, pourquoi pas ? un pull a grosses mailles, à croisillons, comme si quelqu’un avait encore le temps de tricoter pour vous.

Un pull très grand : le corps va s’abolir, on sera la saison. Un pull en creux d’épaule, en espérant … Même pour soi, c’est bon, cette façon de jouer la fin des choses ton sur ton. Choisir le confort des mélancolies. Acheter la couleur des jours, un nouveau pull d’automne."

Philippe Delerm (L'Arpenteur)