sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

não consigo deixar de pensar...

Não consigo deixar de pensar no rapaz que hoje ficou sem o casaco. (provavelmente tb sem o telemovel e o relógio).
Eles eram três e eu só uma. E segui o meu caminho como se não estivesse a assistir a um assalto.
Eles eram grandes e eu não sou. Nem forte nem sei agredir fisicamente. E passei por eles e segui. O meu caminho.
Era de noite e a rua estava deserta. E escura. E eu continuei a andar com o meu passo tranquilo de quem não se sente ameaçada (porque a verdade é que não senti medo sequer).
Passei por eles, percebi que o estavam a assaltar e não fui capaz de parar. E tudo o que possa dizer para me justificar não me vai suavizar a culpa ou fazer deixar de pensar no rapaz com que me cruzei e que, esta noite, ficou sem o casaco, sem o telemovel e o relógio (se é que trazia relógio).
Se ao menos tivesse parado… sujeitava-me a ficar também eu sem telemovel, relógio e dinheiro. Sugeitava-me a ficar com o nariz partido ou um olho negro (porque além de serem três eu sou incapaz de bater em alguém)
Não percebo porque é que passaram alegremente por mim e o foram assaltar a ele. Não percebo porque é que não fui capaz de parar e tentar conversar.
Se ao menos tivesse parado…. (chamar-me-iam inconsciênte mas estaria de consciência tranquila)

De que vale ter muitos muitos ideais se nas alturas críticas jogamos sempre pelo seguro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Contigo pensarei também nesse rapaz. Sabendo cá dentro de mim que lhe estava destinado passar por tal experiência na tua proximidade para que também se cumprisse o que a ti te estava destinado. Mas culpa, não!!! Nada de culpa!! ok?
A ti tocou-te olhares para dentro e sofrer na tentativa de compreensão da atitude que adoptaste. Debates-te indecisa entre a indiferença (que se revela não teres tido, ou já terias esquecido o episódio)e a intranquilidade da consciência (aliás, sempre benvinda no crescimento interior. Preparam-nos para sermos racionais e avaliar os perigos, mas jogamos pelo seguro mais por instinto de sobrevivência; ora, isso não é pacífico em todas as situações e o conflito, ou a natureza deste, e a capacidade para entender e aceitar as nossas limitações é que nos faz crescer. Se ao menos tivesses parado não aprenderias mais uma lição, digo eu, que não sei nada disto, mas garanto-te que por isto não deixarás de ser melhor pessoa... (Tieta)

Alexandre disse...

a ética é fodidamente anti-darwinista, não é?