quarta-feira, 14 de abril de 2004

Morrer e nascer (ou vice-versa)

Há dias assim, cheios. Cheios no tempo, nos afazeres e cheios de alma e de vida.
E apesar de naquela manhã já saber que o dia ia ser grande, não o imaginava tão cheio de ser.
Um funeral não é, convínhamos, a melhor forma de se começar uma manhã. Mas o sol firme e o verde da relva só serviram para ampliar o fascínio que sentia por cemitérios. É um olhar para um espaço demasiado orgânico e senti-lo como local de paz.
E afinal, o que é isto da morte? Uma ausência? Uma presença noutro estado? Noutro local? Noutro ser? Será que alguém pode realmente divagar sobre isso até ao dia em que já não lhe é permitido expressar ideias?
E porque o dia prometia ser mais que a morte, a tarde trouxe a certeza da existência de uma nova vida, algures numa barriga redonda e esperançosa. Uma vida que reage às vidas exteriores e inunda, mesmo aqueles que não conhece, de sorrisos. Uma vida que é a poesia da vida de outros.
E nascer, o que é? É vir de onde para transformar o quê?

Tocar um inicio e um fim, em tão poucas horas faz pensar em todo o caminho que fica, entre a chegada e a partida e deixa cá dentro uma sensação de querer estar. Permanecer.

Sem comentários: