sábado, 7 de fevereiro de 2004

anjos de carne e osso

...no meio desta liberdade
filhos da puta sem razão e sem sentido
no meio da rua
nua, crua e bruta
eu luto sempre do outro lado da luta.
[Xutos]

Há um famoso texto da madre Teresa de Calcutá que tem uma parte que diz o seguinte:

As pessoas são injustas, ilógicas e egoístas
Ama-as, na mesma
A honestidade e a franquesa tornam-te vulnerável
Sê franco e honesto na mesma
Aquilo que passas anos a construír, pode ser destruído numa noite
Constrói na mesma
Se deres ao mundo o melhor que tens, provavelmente ainda serás insultado
Dá o teu melhor na mesma
Porque as coisas nunca são entre ti e os outros
Mas entre ti e Deus.


Esta é a lógica que a nossa sociedade denomina de ser ingenuamente parvo, ser fraco ou, na melhor das hipoteses masoquista. Onde está o valor de se amar a injustiça e o egoísmo? De que serve dar o meu melhor a construír o que não é desejado por este mundo? E a honestidade, é uma arma ao serviço de quem? Esta é a lógica com que fomos inconscientemente educados, é intrinsecamente a nossa forma protegida e protectora de pensar e agir.

E se um dia decidir lutar “do outro lado da luta”?
Sem culpas mas com consequências

O que fazer com as pessoas injustas, ilógicas e egosístas se não as podermos amar?
Ser injusto para com elas? Responder com o egoísmo da raiva?
Que resposta dou ao mundo que não a fidelidade ao que acredito?
A desonestidade? A mentira? Tornar-me-ão as meias verdades mais forte, menos ingénua?
E deixo de lutar por um mundo melhor só porque há quem esteja disposto a destruír os meus sonhos? Serei mais feliz acomodada a uma sociedade que não exige muito de mim?

E se um dia eu decidir lutar “do outro lado da luta”?
E se eu quiser acreditar que o Amor é a única possivel resposta?
E se eu estiver disposta a viver a vulnerabilidade de quem quer ser transparente?
E se preferir continuar a sonhar? E a edificar sonhos?

…enquanto houver estrada para andar
a gente vai continuar…
[Jorge Palma]

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