Fez já três anos que cheguei um dia à escola e
comentei que tinha frio. sempre.
Estávamos no inverno e a minha vida gelara nos
últimos meses: a minha cama era demasiado solitária para adormecer, a minha
casa demasiado grande para o meu eu perdido e o meu corpo estava morto, sem
reacção.
No dia seguinte a A. ofereceu-me um casaco-polar
verde. Para eu dormir mais quentinha, disse ela, mais aconchegada.
Nunca dormi com ele vestido. O meu frio era bem
mais interno mas a partir desse dia, o meu casaco-polar tornou-se um símbolo de
conforto. do conforto que nos vem de sabermos que alguém está connosco, está
por nós mesmo quando a luta é só nossa.
De há três anos para cá que viajo e
treino sempre com o casaco-polar verde. (felizmente é de boa qualidade ou estaria
desfeio de tanta lavagem!) O frio foi desaparecendo e ele tornou-se, para além
de conforto, uma marca palpável da minha luta, da minha caminhada.
E hoje, em que ironicamente tenho novamente o
inverno em mim, sinto que posso devolver o casaco-polar verde. Porque ele
simboliza aconchego mas sobretudo prova que a sobrevivência é possível depois de
grandes lutas. E que a vida vai aquecendo...
Sem comentários:
Enviar um comentário