O espectáculo que Clara Andermatt coreografou para Faro2005, capital da cultura é, realmente, um grito surdo.
Colocar um grupo de crianças em palco e fazê-los dançar, cantar e representar não é simples. Mas pode também não ser complicado. Fazê-lo quando o que se diz é, para muitas das crianças um sem-sentido de palavras e o que se dança é uma sequência de movimentos sem nexo pode tornar-se num espectáculo ridículo ou genial. E aquela quarta à noite, no grande auditório do CCB foi mágica! Fiquei a admirar realmente o trabalho da coreografa ao ver aquela amálgama de crianças a estarem ao nível dos bailarinos e dos músicos, a conseguirem exprimir através da dança e do som um projecto que só pode ter também partido deles (de outra forma não estariam tão convictos neles próprios).
O grito do peixe é dança, mas não é só. É música, produzida e dançada em palco (por uma banda que também ela foi encenada). É música tocada e cantada pelos músicos e pelos não-músicos. São textos e palavras ditas em sequências de baile, com ritmo, repetição, gesto. E no que toca à dança…. Os movimentos são mesmos mágicos. Há uma cena só de colos e abraços que me deixou as lágrimas a escorrer pela cara. Há outra, com um homem de andas, em que o meu sorriso parecia não desmanchar do rosto. Há cenas que voltam a outras cenas de uma forma tão inesperada que me senti deslumbrada. Como alguém, que regressa ao meio de uma história para acrescentar qualquer detalhe que tinha escapado… e rápidamente se chega ao final de hora e meia de espectáculo, sem que o tempo tenha sequer um minuto a mais. E apetece deitar as costas no chão, esticar as pernas no ar e gritar pelos dedos dos pés, como os peixes!
1 comentário:
Foi sem dúvida uma noite intensa...
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