Se Buenos Aires é uma cidade europeia (no urbanismo, nos edificios, nas pessoas), os arredores da capital são 100% américa latina.
No bairro onde estou a viver há ruas de terra batida (que se transformam em montes de lama com a chuva que sempre ameaça caír. Há grades em todas as portas, portões e quintais e cada porta é sempre fechada à chave com duas voltas.
As casas são cinzentas e rasteiras, como o chão, a água que corre pelas ruas e o céu. Não há praticamente passeios e os que existem são restos de cimento. Cinzento. Os caixotes de lixo estão no ar para que os cães não lhes cheguem.
No bairro onde vivo as ruas cheiram a água parada e os cães ladram sem dono. Os carros são feitos de retalhos de socata e andam aos solavancos por estradas esburacadas, sem luzes.
As lojas são pequenas divisões que vendem de tudo. Sempre com uma grade que nos separa do vendedor.
Nesta argentina sem plata, as cores são diferentes das da cidade.Teimam em contrariar a manontonia do cinzento. Berram, nos toldos das lojas, nos placares gastos de anúncios, nos legumes cuidadosamente expostos nas ruas.
Nesta argentina latina as pessoas cumprimentam-se na rua e param para se falar. Partilham as desgraças e os sorrisos e seguem caminho mais leves, menos cinzentas.
2 comentários:
Feliz pelo aroma a terra barrenta vindo do outro lado do mundo, no meu vocabulário surge impetuosa a mais portuguesa das palavras: SAUDADE. E a ausente fez-se presente através da descrição do novo mundo e das vidas, que do texto se inferem duras mas fraternas, e que, com também aqui acontece, deix(o)amos que nos passem ao lado. Há ainda um palpitar de emoção por poder partilhar um pouco dessa experiência extraordinária que escolheste viver (mais um degrau do crescimento para alicerce do SER). Um enorme beijo da Tieta, com a certeza de que toda a LUZ do Universo te acompanha nestes momentos.
miuda linda, que bom que e ouvir todas estas novas aventuras! conta-me mais! estou curiosa! vives ai, agora? abraco forte mariana
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