“Eles têm hora e meia em Viena e hora e meia de filme. É coisa virada para um presente: Céline e Jesse deambulando por Paris (...), mas propositadamente pouco de Paris, só eles e nós, sem interferência de personagens e episódios avulso para fazer comédia romântica (nem na sua versão mais madura); apenas eles a olharem para o espelho e assim obrigando o espectador a olhar(-se). " [Helen Barlow in Y, Público de 15 Out 04]
É realmente verdade que, ao fim de hora e meia, quando o filme inesperadamente acaba e me deixa a meio de um convulsivo ataque de choro se ouve um ohhhh, jáááá´? generalizado no cinema. Hora e meia de conversa entre dois personagens. Porque é de conversa que se trata uma vez que pouco (ou tudo) mais existe em Antes do Anoitecer. E como é que só conversa (sem muito enredo, ou fotografia ou acção) pode prender o espectador a ponto de o tempo parecer correr tão rápido?
Hora e meia de conversa entre nós e um dos personagens. Porque o filme é uma inevitável passagem de nos sentirmos identificados com Céline ou com Jesse, ou com a mulher dele ou até com o gato. Impossível não ser alguém nos diálogos entre ambos. Impossível não escolher um ponto de vista, não reconhecer uma forma de estar na vida, um hábito sem importância, qualquer pequenina coisa... e do inevitável confronto com o outro nasce o olhar(-se) de que fala Helen Barlow, nasce o “murro no estômago” de nos reconhecermos algures em teorias inventadas para tentar dar sentido aos dias que passam.
Hora e meia de conversa entre nós e nós, levada a cabo por eles. Em diálogos fluidos, de alguém que ainda está suficientemente apaixonado/a e à vontade para dizer o que lhe vem à cabeça, para saltar de detalhes do dia a dia para intimidades da vida, expondo a alma de uma forma que mostra, exactamente e só aquilo que quer mostrar. A honestidade de um jogo de sedução. Na fronteira entre o instante casual e a história de uma vida. As palavras que transmitem uma imagem de nós. Aquela com a qual sonhamos ser. Aquela que gostamos que reconheçam de nós. E depois, a realidade. Quem somos, afinal? E de que forma é que os outros nos olham? Em que é que realmente acreditamos? Por que lutamos?
E o Amor, o que é e onde está?
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