quarta-feira, 23 de maio de 2007

annie ou uma geraçao nada rasca

Há umas semanas que fui ver uma adaptação do musical annie. O espetáculo, levado a palco num pequeno auditório sem grandes meios foi imaginado, ensaiado e produzido por dois alunos do secundário da escola onde dou aulas.
Fazer apresentações teatrais num meio escolar é algo comum (principalmente com a moda das áreas-projecto). Fazê-las como actividade extra curricular já é menos habitual mas, ainda assim, acontece. Montar toda uma peça pelo simples gozo de a representar parece-me extraordinário. E fazê-lo com um musical, em que para além de falar há que cantar e tocar é tarefa para gente grande... só que este foi feito sem a dita gente grande.
O resultado foi um espectáculo muito amador, com muitas falhas técnicas mas que transpirava todo o empenho e dedicação daqueles miudos que passaram fins de semana a ensaiar, a escolher roupas, a pintar cenários, a mover meios... e que puseram em palco cantores e instrumentistas dos onze aos dezassete anos.
Semanas depois, não me sai da cabeça o aplauso final, em que o pano se abre e do lado-não-visivel-da-cena saem todos os pequenos instrumentistas orgulhosos da sua actuação.
O que leva dois adolescentes num ano decisivo como o 12º a abdicar de meses do seu tempo livre para montar tamanho projecto? O que leva um monte de outros adolescentes a trocar o conforto da casa, ao fim de semana, pela escola de sempre, para repetidos ensaios. E o que leva meia dúzia de crianças a deixarem-se ensaiar por um bando de miúdos não muito mais velhos que elas.
Posso estar a ser tendenciosa, ou retorcida na conclusão mas quero acreditar que a escola a que pertenço educa para a responsabilidade e para a criativadade. E o resultado são pessoas que sabem agarrar nos sonhos (por mais utópicos que pareçam) e trazê-los para a realidade. E com a imagem dos muitos alunos a agradecer ao aplauso do público quero sentir que também eu sou responsavel por uma educação assim. Ingénua?