domingo, 25 de abril de 2004

o poder de um R

evolução
s.f. acto ou efeito de evoluir; sequência de movimentos concertados; sequência de transformações lentas afigurando-se orientadas numa certa direcção; desenvolvimento progressivo, ...

revolução
acto ou efeito de revolver; giro; movimento em torno de um eixo; fig. insurreição destinada a modificar a política ou as instituições de um estado; transformação profunda, ...
in | dicionário da língua portuguesa, Porto editora

Eu que sou mais que filha da democracia da minha terra, às vezes penso que gostava de ter vivido a geração dos meus pais. Foi talvez a mais intensa geração para se ser português no século vinte. Foi uma altura em que cada decisão tinha consequências fortes, em que, no caminho traçado por cada pessoa, a linha que separava a vontade pessoal da consciência colectiva estava traçada e tinha cor. E optar nunca devia ser fácil. E a neutralidade não era uma opção possível.
Foi uma época de sussurros e gritos, de segredos e aparências, de reacções de grupo e de grandes vontades individuais.
Foi um tempo de luta, contra ideias feitas ou preconceitos, contra normas e morais, contra hierarquias e violências.
Foi um tempo de conquistas, de liberdade, de cidadania, de democracia, de expressão.
Foi um tempo de guerra sem sangue.

E por isso irrita-me profundamente que se diga que "Abril é Evolução". O que é que se quer, realmente dizer com isso. A mim soa-me sempre a ideais de progresso já abandonados há mais de 20 anos, a uma ideia linear e pateticamente construtiva de um país.
E eles que consideram o nosso estadio nacional em evolução, orientam-no para onde? qual é o rumo?

Abril é, e sempre será, Revolução.
E isso não significa estagnar no tempo, significa ter um espírito crítico.
E 30 anos trouxeram, como não podia deixar de ser, muita mudança, adaptação e alguma acomodação.
Enquanto houver quem esteja disposto a lutar por um bem comum, a construir pacificamente a liberdade e a derrubar as ideias feitas de Portugal que se quer evoluído, a revolução permanece.
Parabéns pelos 30 anos!

quarta-feira, 21 de abril de 2004

a pedido de um amigo... um texto que já estava arrumado

Descobri Paris uma cidade quase tão luminosa como Lisboa. O Outono estava a despedir-se de uma forma vistosa, largando as folhas amarelas, quentes e castanhas, vermelhas-tijolo que cobriam os passeios lisos, as pontes sobre o Sena e o verde dos jardins. Mas o calor resumia-se à cor do chão porque o céu era azul-acinzentado, frio, quase tão frio como o ar claro que me gelava as mãos (mesmo com luvas calçadas e recorrendo ao quentinho dos bolsos).
Paris tem, a claridade de uma cidade com séculos de história que não esconde. Está ali, tranquila, vertical na quantidade de igrejas góticas, acolhedora nas pequenas livrarias e cafés de rosto colorido, simples nas ruas limpas de prédios claros. Ás vezes parece que não é uma grande capital europeia mas uma pequena vila no meio do nada. E o engraçado é que os parisienses vivem a cidade onde vivem: passeiam e lêem nos jardins, visitam os museus, ouvem música nas igrejas, comem crepes e paninis nas ruas, como se soubessem com convicção que aproveitar a cidade ao máximo é torná-la mais deles.
Senti-me em casa. Se calhar porque também passei pelos jardins, ouvi música na Notre Dame e comi frequentemente na rua. Se calhar porque Paris transpira cultura de uma forma acessível a qualquer um e isso fez-me voltar a acreditar que a arte e a beleza nascem para todos. Se calhar porque é uma cidade que se deixa contemplar até já não haver mais espaço na alma para a absorver.
E fez-me ter a certeza que viajar é sempre uma experiência estética, entre sonhos e memórias.

Isto pode não parecer mas é uma petição a favor de que se viva intensamente este espaço físico-cultural-afectivo a que frequentemente chamamos Lisboa
>nov03

comunicar: design2004

Ciclo de conferências Comunicar:Design, organizado pelos finalistas do curso de Tecnologias Gráficas e Multimédia da ESAD/ESTGAD, Caldas da Rainha.
O debate centrar-se-à na questão da responsabilidade social dos designers de comunicação, na sociedade contemporânea.
(uma bela questão!) e vai realizar-se na ESAD, de 11 a 13 Maio.
fica a sugestão (e o desejo de ir).

receitas do nosso Portugal

Lampreia à moda do Minho

Ingredientes
1 lampreia
2 cebolas grandes
1 cabeça de alho
vinho branco
4dl azeite
1colher sopa manteiga
1ramo salsa
1cálice vinho Porto seco
sal e pimenta qb

Preparação
Atar um cordão na cabeça da lampreia viva e mergulhá-la em água a ferver. Retirá-la imediatamente e raspá-la com uma faca. Acabar de a limpar com um pano grosso. Com uma faca afiada, golpear os orifícios, aproveitando o sangue, ao qual se junta o vinho para não coalhar. Retirar com cuidado a tripa e uma espécie de espinha que existe na cabeça.
Fazer um refogado com as cebolas, o alho, o azeite, a manteiga, a salsa, o sal e a pimenta. Quando estiver louro, retirar o ramos de salsa e deitar a lampreia juntamente com o sangue, deixando ferver até apurar. Deitar então o vinho do Porto.
Servir com arroz, que se prepara com uma parte do molho.

Absoluta e indiscritivelmente nogento.
Quem é que se sente capaz de provar?

sábado, 17 de abril de 2004

quinta-feira, 15 de abril de 2004

estou apaixonado pela minha vida.

que belo título para uma música pimba!

quarta-feira, 14 de abril de 2004

Morrer e nascer (ou vice-versa)

Há dias assim, cheios. Cheios no tempo, nos afazeres e cheios de alma e de vida.
E apesar de naquela manhã já saber que o dia ia ser grande, não o imaginava tão cheio de ser.
Um funeral não é, convínhamos, a melhor forma de se começar uma manhã. Mas o sol firme e o verde da relva só serviram para ampliar o fascínio que sentia por cemitérios. É um olhar para um espaço demasiado orgânico e senti-lo como local de paz.
E afinal, o que é isto da morte? Uma ausência? Uma presença noutro estado? Noutro local? Noutro ser? Será que alguém pode realmente divagar sobre isso até ao dia em que já não lhe é permitido expressar ideias?
E porque o dia prometia ser mais que a morte, a tarde trouxe a certeza da existência de uma nova vida, algures numa barriga redonda e esperançosa. Uma vida que reage às vidas exteriores e inunda, mesmo aqueles que não conhece, de sorrisos. Uma vida que é a poesia da vida de outros.
E nascer, o que é? É vir de onde para transformar o quê?

Tocar um inicio e um fim, em tão poucas horas faz pensar em todo o caminho que fica, entre a chegada e a partida e deixa cá dentro uma sensação de querer estar. Permanecer.

terça-feira, 13 de abril de 2004

dançar e dançar e dançar...

Eu só queria dançar contigo
sem corpo visível
dançar como amigo
se fosse possível
dois pares de sapatos
levantando o pó
dançar como amigo só


[sergio godinho e clã]

sábado, 10 de abril de 2004

pés no chão, cabeça no céu


[seduzir | Helena Almeida | 2002]

só pelo nome da exposição, já valia a pena não perder!
Helena Almeida, no CCB até 16 de Maio

tempo interior

Alguém partilhava comigo, no início da semana, que a Páscoa é um tempo interior.
Que o Natal é festa de família, de luz e de gente e que esta é uma época de percorrer um caminho solitário, nem sempre claro, nem sempre festivo mas que tem um prometido final feliz.
Estes dias são tempo de ir mais fundo, de questionar, de viver o silêncio e saber ouvi-lo.
São o percorrer de um caminho interior sem a ajuda de outros. E sem nos sentirmos sós.
São a possibilidade de escutar o que anda adormecido em nós. De resgatar os ideais a que vale a pena ser fiel.
São uma tentativa de purificar o corpo e a alma. De nos sabermos mais harmoniosos connosco e com o mundo.

E são a certeza de que o stress e a desilusão, o cansaço e a injustiça não têm a última palavra.