terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

mouraria, 10fev04

Hoje alguém pintou o céu de rosa,
em tiras assumidamente magenta que se destacam de um fundo azul pálido.
Presságio de um amanhã soalheiro, dizem os velhos da aldeia.
Presságio de uma amanhã melhor! (digo eu)

E Lisboa ficou com aquela luz fria e transparente que só ela sabe ter no fim dos dias claros de Inverno. E Lisboa ficou com aquele cheiro de cidade com alma.
Presságio de um amanhã com vida!

E ao olhar novamente a cidade lá fora, o céu já se tinha despedido do rosa, do dia e da poesia da luz. Porque o dia não espera pelo fim das frases para se ir embora.
Presságio de uma vida!

sábado, 7 de fevereiro de 2004

anjos de carne e osso

...no meio desta liberdade
filhos da puta sem razão e sem sentido
no meio da rua
nua, crua e bruta
eu luto sempre do outro lado da luta.
[Xutos]

Há um famoso texto da madre Teresa de Calcutá que tem uma parte que diz o seguinte:

As pessoas são injustas, ilógicas e egoístas
Ama-as, na mesma
A honestidade e a franquesa tornam-te vulnerável
Sê franco e honesto na mesma
Aquilo que passas anos a construír, pode ser destruído numa noite
Constrói na mesma
Se deres ao mundo o melhor que tens, provavelmente ainda serás insultado
Dá o teu melhor na mesma
Porque as coisas nunca são entre ti e os outros
Mas entre ti e Deus.


Esta é a lógica que a nossa sociedade denomina de ser ingenuamente parvo, ser fraco ou, na melhor das hipoteses masoquista. Onde está o valor de se amar a injustiça e o egoísmo? De que serve dar o meu melhor a construír o que não é desejado por este mundo? E a honestidade, é uma arma ao serviço de quem? Esta é a lógica com que fomos inconscientemente educados, é intrinsecamente a nossa forma protegida e protectora de pensar e agir.

E se um dia decidir lutar “do outro lado da luta”?
Sem culpas mas com consequências

O que fazer com as pessoas injustas, ilógicas e egosístas se não as podermos amar?
Ser injusto para com elas? Responder com o egoísmo da raiva?
Que resposta dou ao mundo que não a fidelidade ao que acredito?
A desonestidade? A mentira? Tornar-me-ão as meias verdades mais forte, menos ingénua?
E deixo de lutar por um mundo melhor só porque há quem esteja disposto a destruír os meus sonhos? Serei mais feliz acomodada a uma sociedade que não exige muito de mim?

E se um dia eu decidir lutar “do outro lado da luta”?
E se eu quiser acreditar que o Amor é a única possivel resposta?
E se eu estiver disposta a viver a vulnerabilidade de quem quer ser transparente?
E se preferir continuar a sonhar? E a edificar sonhos?

…enquanto houver estrada para andar
a gente vai continuar…
[Jorge Palma]